A Revolta das Pedrinhas

5 Dezembro, 2017

A Opala sentia-se triste… perdera parte do brilho dos seus belos reflexos.
Desde aquele dia nefasto, em que sua fiel e amada proprietária deu o último suspiro, devido aquele insólito e súbito acidente.

Naquela bela mão, sentia-me a rainha das pedras e da beleza – sentia cores e odores, sempre escutara de alegria e muito viajei em muitas peripécias participei.

Sentia-me segura, talvez a preferida da minha rainha. Conquanto, as demais eram trocadas periodicamente e eu ali permanecia reluzindo e sentido sua delicada pele.

Já estava habituada à intempérie da água que corria nos dedos das mãos.

Agora aqui sozinha e desprezada no meio de lamentos e escuridão.
Aqui fechada, no meio de outras que adormeceram num sono profundo desta escuridão.

Maldito cofre que não deixa penetrar nenhum raio de inteligência.
Tento mover-me, por vezes bato na porta e ninguém me ouve!

Eles sabem que eu existo e tenho valor, porque senão, aqui não estaria.
Vou resistir e não vou adormecer, numa muda de cofre.
Não tenho a minha dama – prefiro estar num expositor, onda possa ver, brilhar e fazer sonhar.
Parece-me que há magia, acordaram da letargia e até já conversam, coisa rara.

O Cristal repete sempre a mesma frase:
– Vão precisar de mim, quem será?
– Adoro andar de mão em mão!
Desde que não me façam prisioneiro nem de candeeiro.

A esperançosa Esmeralda sorri e diz:
– Tenho mais valor. Mas, afinal qual valor?
– Nunca, ninguém me quis transportar.

Por outro lado, o Diamante mete a colher e exclama:
– O mais valioso, eu sou! Apesar de velho e com carvão, sou sempre a primeira opção.

A Safira espreguiça-se e diz com voz meia rouca:
– Quando eu saia desta prisão, necessito de um dedo de qualquer mão mesmo que seja arrugado.

A Pérola, bem-disposta também acrescenta:
– Prefiro estar aqui, já estava habituada, sempre vivi protegida e livre de tanta agitação.

O Rubi chateado exclama:
– Já tenho cor suficiente, para estarmos todos aqui – tanto tempo!
– Somos inúteis, algo de mal aconteceu, na minha mão querida.

O Lápis-lazúli interfere:
– Tenho saudades de banhar-me, não quero ficar aqui preso ou exposto numa vitrina, eu até nem sou de reclamar – só me exalto, quando me esfregam, não é?

O Ónix, aborrecido, desperta e exclama:
– Quem consegue sossegar com tanta lamúria. É melhor estar aqui, que andar a ser apertado e riscado. Embora, quando me carregam, algumas parvalhonas costumam pasmar – ohm que lindo! – Pedra preta? – Como se chama?
– E quem me carrega diz «É pedra negra!».
– Tanto eles como elas são todos tontos, que nem sabem o meu nome.

Todos se riem com grandes gargalhadas, a tal ponto, que até despertaram os metais.

A Opala em tom de desafio exclama:
– Estamos aqui, presas e muitas de nós, apertadas em encaixes.
Aqui somos feias e pouco valemos, apenas esmorecemos, sem corpos e sem vitrinas para brilhar.
Tenho um plano – em sintonia vamos gritar!
Já escutamos fábulas e mágicas, que nos fizeram encantar.
Queremos liberdade, para os corpos decorar.
Força amiga e amigas… mais alto.
Vamos despertar os metais e juntos, vamos conquistar.

A minha rainha dizia que o som era magia!

A moeda de Prata que habita os fundos da prisão exclama:
– Pois é Lápis-lazúli, tenho pouca admiração porque a Platina tenta substituir-me – todos sabem que ela é muito invejosa, não é Lápis-lazúli?

É verdade querida Prata!
– Também eles e elas, sempre me diziam que é devido à cor, não combino com tudo. Todos são ingratos, eles ou elas, já me dissera a minha prima gema. Sabes que a Platina sempre teve inveja de ti, tu és mais gorda e todos te querem, porque não és careira. És como eu!

De repente, uma moeda de Ouro, aprisionada à Prata, dá um grito:
– Calem-se!
Já estou chateado com o peso e o barulho destes pedregulhos, e aborrecido estou – farto de escutar lamúrias vossas e de distintos corpos.
Já me bateram, já fui magoado e até sequestrado e nunca me aborreci. Desde que me encontraram, já resisti a todas as provas de calores e pinturas de ácidos e aqui estou, sempre sujeito a todas as pedras e aos gostos dos patrões e das imitações.

Em silêncio, todos escutavam a resignação da moeda de Ouro, que continuava dizendo:
– Fui habituado a brilhar nas orelhas, nos pescoços e nos dedos. Em muitas cerimónias andei e até nos narizes, nos umbigos e nos pés me adaptei. Detesto, quando me riscam na parede ou me banham com ácido e pior ainda quando me levam ao forno – para se certificaram – realmente sou eu.
Sabem, de mão em mão, guardo muitos segredos – já conheci muitos donos e já me usaram como coleira dos amigos de quatro patas – o Bob, partiu e tudo para mim, mais escuro ficou, mais ainda quando a minha linda dama, se apagou!

A Opala sentia-se nervosa e pensativa – se ergue e diz:
– Querido Ouro, amada Prata, Metais preciosos, sempre nossos amigos – estão todos marcados e classificados, carregamos alegrias e tristezas – são apenas recordações, estamos conscientes, que eles e elas partem e nós ficamos. A nossa missão é decorar e fazer o mundo brilhar.

A prata mete a colher e exclama:
– É verdade querida Opala. Mas ainda sinto o cheiro da sua pele, ela nunca saia sem mim!
Às vezes, dizia-me que eu ficaria em casa, para não me magoar, não é verdade Ónix?

No meio daquele silêncio de meditar, a Opala suspira e as lágrimas lhe saltam e diz:
– Que infelicidade a minha – perder a minha rainha, me lembro quando me fazia sorrir, esfregando suas delicadas mãos com sabonete de jasmim – frescura!

Todos ficam pasmados, quando uma voz, vinda da fechadura de ferro, exclama:
– Silêncio!
– Calma!
– Alguém está a falar em todos vós!
Uma dama está dizendo, que desde que entraram aqui, escuta sons, ruídos e vozes que não entende e que saem do cofre, tem sido um pesadelo – sei que é verdade, mas nunca me chateei com ninguém, sei que é triste perder a liberdade, sei que um dia serei corroído pelo tempo.
– Calma!
Ela está falando com um velhote e ele está afirmando, que o melhor será ela, desfazer-se de vós, está falando dos vossos antigos donos – diz que sois uma assombração.

Sem poder se conter, a Opala luze em vários tons e dá um grito exclamando:
– Obrigada Ferro, sei que ficas aqui, é o teu lugar – és segurança, deixa-me abraçar-te!

Todos batem palmas e a Opala exclama de alegria:
– Vamos ser livres de novo e de novo sorrir e fazer sorrir!

 

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